terça-feira, 3 de julho de 2012

03.07.2012 – O outro lado da moeda, ou da conversa.

Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree”- https://limetr.ee/br/home

Uma cena que se repetia muito quando Luna era pequena (era?!) consistia no seguinte diálogo entre mães e suas respectivas crias quando iam visitar minha filha em casa ou mesmo quando encontrávamos casais com filhos nas andanças da vida: “Filho(a), a Luna é pequenininha, ainda é um bebezinho, tem que tomar cuidado com ela, tá? Não pode gritar, porque ela se assusta.” Ou coisas do gênero. E sempre que isso acontecia eu ficava olhando com aquela cara de compreensiva, mas também com cara de mãe de primeira viagem que quer proteger a filha de tudo e de todos, com um sorrisinho no canto dos lábios, pensando “Tá prestando atenção no que sua mãe está falando? To de olho em você, hein! Obrigada Deus, por ainda existirem mães com um mínimo de bom senso”.
Mas quem dera nossos filhos pudessem vir com alguns botõeszinho de fábrica instalados pelo corpo (pouquinhos, tipo uma dúzia, ou duas, talvez) que pudessem ser acionados por controle remoto e funcionassem a uma distância de, pelo menos,1 km – se é pra viajar na maionese, que seja bem feito – pra poder almoçar na casa dazámigue sem se preocupar se o pequeno está entrando no banheiro e molhando a mão na água da privada.
É claro que eu sei que tudo é questão de educação; que se a relação da família com as crias é de conversa e minimamente de imposição de limites, existe uma maior probabilidade dos ‘di menor’ saberem o que é permitido e o que ‘não pode de jeito nenhum, por nada nesse mundo’.  Mas criança não é robô, e criança gosta de ultrapassar barreiras, de desafiar e de testar os pais, os avós, o Papa e o papagaio (sempre sobra pro coitado do papagio).
Mas recapitulando aqui esses 17 meses, acho que nunca passei por nenhuma situação extrema, de pegar rebentos alheios puxando a vasta cabeleira da minha cria ou batendo nela. O que acontece muito é de crianças um pouco maiores que ela pegarem brinquedos de sua mão, mas até aí, normal; criança quer satisfação imediata e fica um bom tempo na fase egocêntrica; e Luna, até pouco tempo atrás, deixava rolar. Mesmo Luna sendo grande – e forte! – pra idade dela, o que ainda acontece de vez em quando é, ao dividir o espaço de brincar com uma criança maior, ser derrubada num momento de correria e euforia; mas sem ossos quebrados ou cabeça aberta. Com relação ao barulho, Luna passou suas primeiras semanas de vida sempre rodeada de gente, família e visitas, então dorme até no colo do pai com ele gritando gol ao assistir um jogo do Timão. Resumindo, chegamos a este ponto sem nenhum trauma físico ou psicológico causado por filhotes alheios.
Acontece que Luna está a 10 dias de se tornar “oficialmente” uma criança. Segundo a Wikipedia, “Uma criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento. São chamadas (...) bebê entre o segundo e o décimo-oitavo mês (...)”; e Luna completa um ano e meio no próximo dia 13.
No final de semana passado fomos fazer nossa primeira visita a um casal de amigos que acabou de “parir”. Na verdade essa era a terceira vez, mas nas anteriores Luna ainda era bem titica e tinha apenas dois ou três meses de diferença dos respectivos visitados. Agora era diferente, era uma ‘quase criança’ adentrando o recente habitat de um recente bebê. Então, pouco tempo depois de termos entrado no apartamento, me peguei tendo com a Luna um monólogo muito familiar, mas que nunca havia saído da minha própria boca: “Filha, olha que linda a Bia! Ela é tão pequenininha, né? E ela está dormindo, não pode fazer barulho, tá?”. E a tarde transcorreu bem. Como ficamos basicamente na sala, Luna acabou preferindo ficar por ali. Conforme o tempo foi passando e ela foi se entediando dos brinquedos que levei numa mala de viagens dentro de sua bolsa, a pequena (não tão pequena assim) foi querendo explorar o restante da casa; até porque, na entrada do quarto da bebê tinha uma estante cheia de bichos de pelúcia, muitos deles ao alcance das mãozinhas da minha ainda bebê.  E quando Luna estava prestes a escapulir, eu tentava conciliar duas coisas: o reforço na conversa e na distração, fazendo alguma brincadeira para tirar o foco na vontade de sair dali. Em alguns momentos ela desencanava numa boa, em outros – como quando me viu sair pra ajudar a mãe da bebê a dar banho nela e a deixei com Silvio na sala – ela chorava e queria fugir. Nos primeiros momentos eu ouvia de dentro do banheiro o escândalo da moçoila e a voz do Sil tentando convencê-la que eu voltaria logo. Depois de um tempo confesso que ignorei a situação e fiquei me deliciando com aquele serzinho quase 10 kilos mais leve do que minha giganta.
Luna de uniforme da escola.
Agora o crescimento será visível - e registrado! - mês a mês.
Na volta pra casa fiquei pensando em como já estou do outro lado do balcão, do outro lado da situação; como aquele sorrisinho de canto de boca desapareceu assim que entramos no apartamento dos nossos amigos e eu bati o olho naquela criaturinha tão indefesa no colo da mãe; e no lugar do sorriso ficou dentro de mim uma sirene constante, que mal me deixava tirar o olho da Luna – pra ter uma ideia, estava passando o final da EuroCopa e eu não vi NENHUM dos QUATRO gols marcados pela Espanha-, evitando que ela pudesse entrar no quarto da Bia enquanto a pititica dormia e derrubar todos os itens da estante no chão. Minha filha não é nenhuma terrorista demolidora de casas, não se penduraria no berço, nem no carrinho do bebê; não subiria na cama pra ficar pulando e gritando, nem iria entrar na cozinha, pegar uma panela com tampa e achar que está na banda do desfile do Jubileu da Rainha Elizabeth II; ela ainda não tem nem tamanho pra essas coisas. Mas a questão é que ela agora tem uma independência – e como tem! –, uma personalidade e uma coordenação motora que, juntas, possibilitam que ela circule e mexa em coisas que não deveria, mesmo coisas simples; principalmente quando algo já lhe é familiar, como itens pra trocar fraldas do quarto da Bia.
A questão é que mais uma vez tenho um sinal claro de que Luna está crescendo. Um simples diálogo que nunca havia acontecido me mostrou que temos um serzinho ainda pequeno e dependente de nós de muitas maneiras, mas que já está aí, circulando mais solta e que, por isso mesmo, precisa de outros cuidados, de outras conversas, de outros tons de voz de vez em quando. Caiu uma nova ficha – mais uma vez – de como o tempo passa rápido e como as situações que acontecem nos “obrigam” a cada dia a avaliar as nossas atitudes em relação á criação e educação da Luna.