quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Quando nasce uma filha, nascem contadores de histórias; e o resto também é consequência.

O primeiro contato que Luna teve com livros foi com pouquíssimos meses de vida. Eram aqueles com apenas fotos de bichos, sendo que uma parte da foto era coberta por tipos de tecidos que imitavam a textura de pele, pelos, penas e escamas daqueles respectivos bichos. Ela teve (tem) três e adorava passar os dedinhos no pelo do carneiro, nas penas do patinho ou na pele grossa do elefante. Luna desenvolveu o tato enquanto aprendia sobre os animais.
Uma segunda leva veio quando Silvio se deparou com uma promoção de livros com histórias da Disney, Pixar e afins. Os livros são lindos, mas contém muito texto pra pouca imagem, o que não despertou muito o interesse da pequena. Conseguimos um tempo depois os livros Festa no Céu, Chapeuzinho Amarelo e Advinha o Quanto eu Te Amo, os três através de um projeto do Itaú de doação anual de livros. Luna gostou um pouco mais, mas não eram mais interessantes pra ela do que brincar de massinha ou entrar na cabana de bolinhas.
Quando fez um ano Luna ganhou livros que a atraíram mais: um deles tinha um botão que imitava o barulho de um elefante e o outro foi um livro-poema sobre os “dilemas” de ser um bebê. E o mundo da leitura entrou em casa através destes dois. O primeiro com páginas duras e quase sem texto; mamãe contando como o elefantinho na selva – com vários outros bichos - bebia água, nadava no rio, comia frutas e encontrava com a mãe; fim. A cada virada de página vinha aquele barulho do animal protagonista, e um sorriso de felicidade no rosto da pequena. O livro-poema continha imagens bem familiares para a minha pequena: bebê chupando chupeta, com a fralda suja de cocô, tomando mamadeira, deitado no berço, lambuzado de papinha, entre outras. Identificação imediata.
Mas o mundo da “leitura” se iluminou quando fiz AS compras do ano na Bienal do Livro. Eram tantos stands infantis que deixariam qualquer mãe perdidinha, sem saber por onde começar. Como meu tempo era curto – pois trabalhei no stand da Secretaria da Educação e o tempo de almoço era contadinho – deixei o horário de descanso pra lá no meio da semana e fui bater perna. Tentei seguir a ordem dos corredores e fui scanneando o mais rápido possível cada pilha de livros. Tentei variar bastante: livro com quebra-cabeça, sobre alimentação de animais, sobre números, ações do dia-a-dia. E aí encontrei uma pilha com o tipo de livro que achei mais interessante pra Luna agora: poucas páginas, muito desenho – com traços bem definidos – e pouco texto; e percebi que o foco agora era desenvolver na pequena o gosto pela historia, pela narrativa; começo, meio e fim; despertar nela a vontade de conhecer “personagens” e saber o que acontece na página seguinte. É claro que a ideia é que eu e Silvio contemos as histórias, mas o começo do processo é esse mesmo, mais pra frente ela poderá ler o próprio livro. Olhei bastante coisa enquanto estive na feira, mas encontrei total identificação com o material da Ciranda Cultural e da Mundo Todo Livro.
Reorganizei a estante do quarto e separei uma prateleira só para os livros. Nossa rotina em casa à noite ficou diferente: colocamos o pijama e Luna vai até a estante escolher o livro que quer. Filha no colo e livro nas mãos. Nesse momento mãe e pai fazem despertar os artistas que existem dentro de cada um; e a história ganha diferentes tons de voz, caras e bocas. Luna geralmente é toda atenção, aponta pra desenhos já conhecidos e repete os nomes que já sabe. Sou a favor da tecnologia e sei bem o quanto ela pode ser benéfica para os pequenos. Mas não tem evolução digital ou gadget que substitua o prazer de ver seu filho virar página por página e se encantar com os desenhos ali no papel.